Major PM OSCAR FERREIRA DO CARMO

Grupamento de Radiopatrulha Aérea/PMESP

CARGA DE TRABALHO

Denota-se relevância à carga de trabalho na ocorrência da fadiga do piloto, pois sua a jornada, em geral, começa muito antes da decolagem com a preparação da aeronave e o planejamento e, normalmente, termina bem depois do pouso (Kanashiro, 2005).

Mesmo as tarefas monótonas em voo ou em outras atividades podem proporcionar a fadiga por uma carência de estímulos (Kanashiro, 2005). Testes entediantes de longa duração (30 ou 40 minutos), especialmente com alguma privação do sono, demonstram uma queda no desempenho, logo após 5 ou 10 minutos do início do teste (Balkin, 2011).

Kube (2010) considera inevitável que os aviadores estejam imersos em variadas e adversas condições de trabalho que provocam perda progressiva da saúde, prejudica a qualidade de vida e a segurança de voo.

RITMO BIOLÓGICO CIRCADIANO

Os ritmos biológicos mais conhecidos são os circadianos – em torno de um dia ou 24 horas (Mena-Barreto, 2004). A organização temporal dos seres vivos, especialmente do homem, possibilita sua adaptação a fatores recorrentes ambientais (Cippola-Neto, Menna-Barreto, Marques, Afeche & Silva, 1996). No ser humano reconhece-se que o componente circadiano do ciclo vigília-sono é gerado por um relógio biológico que funciona no núcleo supraquiasmático (NSQ) do hipotálamo (Fig. 1) (Mello, Minati & Santana, 2008), localizado na base do cérebro, acima do cruzamento dos nervos óticos, o quiasma ótico.

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Figura1

O NSQ recebe informação visual direta e tem sensibilidade à luminosidade, gerando maior atividade elétrica durante o dia. Na realidade, o dia biológico do homem é um pouco maior que 24 horas (ICAO, 2011). Os ritmos circadianos mantêm-se mesmo sem marcadores externos ou pistas temporais, como luminosidade, temperatura, sons etc. (Fernandes, 2006).

O ritmo endógeno da temperatura corporal (Figura 2) deve ser o mesmo do desempenho físico e também de outros ritmos fisiológicos, como o cortisol e a melatonina (Mello et al., 2008).

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Figura 2. Ciclo dia/noite e ritmos corporais (adaptação)    Nota. Fonte: Comperatore, C. A., Caldwell, J. A. & Caldwell, J. L. (1997). Learder’s Guide to Crew Endurance. United States Army Safety Center. p.34.

A melatonina (Figura 2), secretada pela glândula pineal, é sensível à luminosidade ambiental, tem seu pico de secreção, normalmente das 21 às 7 horas e induz o sono. Acredita-se que a melatonina possa controlar quase todos os ritmos circadianos (Cippola-Neto et al., 1996; Fernandes, 2006; Mello et al., 2008).

O cortisol (Figura 2) é o principal glicocorticoide secretado pelas glândulas adrenais em maior proporção durante o dia, afeta o metabolismo da glicose, das proteínas e dos ácidos graxos (Guyton & Hall, 1996; Mello et al., 2008). O cortisol parece contribuir para a fadiga, quando influencia na síntese excessiva de proteínas, aumentando a oferta de aminoácidos. Um desequilíbrio na produção/utilização de aminoácidos pode desandar a liberação de neurotransmissores (Kube, 2010).

Também sujeita ao ritmo circadiano, a temperatura corporal apresenta uma curva negativa importante na madrugada e no início da tarde (Mena-Barreto, 2004). A interação entre a pressão homeostática do sono e sua variação circadiana que resulta em dois picos de sonolência em 24 horas, ocorrendo por volta de 3 a 5 horas da manhã e no começo da tarde, das 12 até 15 horas. Se houver alguma restrição ao sono à noite, será muito difícil manter-se acordado à tarde (Moreno, 2004; ICAO, 2011).

Referências

Balkin, T. J. (2011) Performance Deficits during Sleep Loss: Effects of Time Awake, Time of Day, and Time on Task. In Kryger, M. H.; Roth, T.; Dement, W. C. (Orgs.) Principles and practice of sleep medicine (pp. 738-744). Canada: Elsevier.

Cippola-Neto, J., Menna-Barreto, L., Marques, N., Afeche, S. C., & Silva, A. A. B. (1996). Cronobiologia do Ciclo Vigília-Sono. In: REIMÃO, Rubens (Org.). Sono: estudo abrangente (pp. 50-87). (2a ed.). São Paulo: Editora Atheneu.

Comperatore, C. A., Caldwell, J. A. & Caldwell, J. L. (1997). Learder’s Guide to Crew Endurance. United States Army Safety Center. Recuperado de www.dtic.mil/cgi-bin/GetTRDoc?AD=ADA433702.

Fernandes, R. M. F. (2006). O Sono Normal. Ribeirão Preto: Medicina 39(2), 157-168.

Guyton, A. C., & Hall, J. E. (1996). Tratado de fisiologia médica (9a ed.). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

Internacional Civil Aviation Organization (ICAO). (2011). Fatigue Risk Management Systems. Implementation Guide for Operators. Canada.

Kanaschiro, R. G. (2005). Fadiga de Voo. In Temporal, W. (Org.). Medicina Aeroespacial (pp. 335-342). Rio de Janeiro: Luzes.

Kube, L. C. (2010). Fisiologia da Fadiga, suas Implicações na Saúde do Aviador e na Segurança na Aviação. Revista Conexão SIPAER, 2(1), 35-57.

Mello, M. T. Minati, A. & Santana, M. G. (2008). Influência dos Ritmos Biológicos no Desempenho Físico. In: Tufik, S. (Org.). Medicina e Biologia do Sono (pp. 117-129). Barueri: Manole.

Mena-Barreto, L. Cronobiologia Humana. (2004). In: Fischer, F. M., Moreno, C. R. C., Rotenberg, L. Trabalho em Turnos e Noturno na Sociedade 24 horas. São Paulo: Editora Atheneu.

Moreno, C. R. C. (2004). Sono e estratégias relativas ao sono para lidar com os horários de trabalho. In: Fischer, F. M., Moreno, C. R. C., Rotenberg, L. Trabalho em Turnos e Noturno na Sociedade 24 horas (pp. 43-52). São Paulo: Editora Atheneu.

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